Diz a lenda que raras foram as vezes em que os pilotos das 24 Horas de Le Mans conseguiram monopolizar o volante por mais de 23 horas, com exceção de Luigi Chinetti (1949) e Louis Rosier (1950). Mas nos dias atuais tal performance individual seria impossÁvel tendo em vista que o ritmo das corridas de endurance mais se parece com o das provas de sprint. É fundamental contar com uma equipe performante e em total harmonia. “Nas corridas de Endurance, três pilotos compartilham o mesmo carro, por isso a coesão da equipe é fundamental para a performanceâ€, explicaÂPhilippe Sinault, diretor geral da Alpine Elf Endurance Team. A equipe acima do piloto Este espÁrito de trabalho em equipe não é tão simples para competidores que foram em sua maioria criados em meio ao culto do individualismo dos monopostos. “Nossa estratégia é diferente em comparação com as corridas de monopostos, onde os pilotos buscam principalmente se destacar no plano pessoalâ€, explica Philippe Sinault. “Em Endurance, o importante é colocar a equipe acima de tudo. Por isso, além de dar o melhor de si ao volante, os pilotos também devem criar uma dinâmica, conversar entre si e, principalmente, estar a serviço uns dos outros. Esta é a verdadeira chave do sucesso e exige uma estratégia psicológica e um mindset diferente em comparação com os pilotos de monopostos.â€Â Participante das provas de Endurance há aproximadamente quinze anos, Nicolas Lapierre confirma que esta categoria exige um mindset diferente. “São mundos totalmente opostos! Com dois companheiros de equipe, nas corridas de Endurance você só quer uma coisa: que eles pilotem o mais rápido possÁvel! Já nas competições monoposto você só pensa em derrotá-los! A filosofia é completamente diferente…†Concessões são necessárias É claro que compartilhar um carro entre três pilotos requer fazer algumas concessões, como revela Philippe Sinault: “Um piloto de Endurance deve aceitar preservar os freios ou os pneus para proteger o próximo revezamento, economizar combustÁvel e nem sempre estar com pneus novos. Estamos sempre fazendo concessões, em uma estratégia positiva em que um pensa no outro ao mesmo tempo em que apresenta a melhor performance possÁvel. Isso pode obrigar a fazer escolhas surpreendentes e até mesmo sacrifÁcios, como no caso da posição de dirigirâ€. Encontrar pilotos capazes de assimilar e compartilhar estes valores de forma harmoniosa com seus companheiros de equipe não é tarefa simples, que fica a cargo de Philippe Sinault: “Estou bastante envolvido na escolha dos pilotos e eu diria até mesmo que é isso que eu mais gosto de fazer no meu trabalhoâ€, confessa o dirigente. Algumas equipes fazem análises estatÁsticas bastante profundas das performances dos pilotos, chegando a contratar pilotos de nacionalidades especÁficas apenas por razões de marketing ou dão preferência a estilos semelhantes de pilotagem. Mas o diretor da equipe Alpine Elf Endurance Team definiu rapidamente seu principal critério na hora de recrutar: “As minhas prioridades são o espÁrito de equipe e o estado psicológico global dos três pilotos. Não existe uma fórmula ou receita pronta. É preciso ter muito feeling, conversar e observar até eu chegar Á conclusão: ‘pronto, este sim vai estar alinhado com a dinâmica que eu quero criar’â€. O ideal é formar um trio que faça a equipe ‘voar’: “Quando temos uma boa dinâmica, cada piloto ajuda os outros a progredir em áreas em eles não são particularmente mais fortes logo no inÁcioâ€, analisa Philippe Sinault. “Este é o lado virtuoso deste tipo de cooperação, onde cada um dá o melhor de si e ainda evolui no plano pessoal. Ao saber compartilhar, é possÁvel potencializar o resultado e o prazer de pilotarâ€. Durante os preparativos para a temporada 2021, o Diretor Geral da Equipe Alpine Elf Endurance Team não se enganou ao escolher o trio Nicolas Lapierre, o brasileiro André Negrão e Matthieu VaxiviÁ¨re: “Tenho um enorme orgulho desta equipe. Eles trabalharam de forma perfeita em 2021 e nunca me passou pela cabeça fazer qualquer alteração para esta temporadaâ€. Trio da pesada Nicolas Lapierre está na equipe desde 2016, cumprindo a função de capitão. “A cada vez que ele assume o volante, sabemos que ele vai dar o máximo de si com uma objetividade incrÁvel tanto em termos de comportamento como em relação ao seu próprio nÁvel de performance e isso não tem preçoâ€, analisa Philippe Sinault. A contratação do piloto francês teria sido óbvia tendo em vista a carreira que ele construiu na categoria. Já o brasileiro André Negrão chegou Á s competições de Endurance mais tarde, entrando para a equipe em 2017 após um inÁcio de carreira em monopostos. “Foi em Endurance que ele realmente se destacou e seu talento desabrochou. Ele tem um tipo especÁfico de inteligência, pois gosta de compartilhar e vencer em grupo. Ele acabou se tornando um componente indispensável Á equipe.†Matthieu VaxiviÁ¨re soube perfeitamente encontrar seu lugar na equipe no ano passado, ao lado destes dois veteranos: “Ele tinha um perfil mais de monoposto e ainda tem um poucoâ€, reconhece Philippe Sinault. “Mas com o apoio de seus dois companheiros de equipe, ele descobriu esta noção de fraternidade com a gente no ano passado, se revelando como um excelente piloto de Enduranceâ€. Após uma temporada espetacular em 2021 pontuada por seis pódios, este trio da pesada começou a temporada 2022 da forma mais perfeita possÁvel ao volante do Alpine A480, vencendo a primeira perna do Campeonato Mundial de Endurance em Sebring e liderando a classificação geral! Não há dúvida que Nicolas, o brasileiro André e Matthieu assimilaram totalmente o mindset que diferencia os pilotos de Endurance de seus colegas que correm nas categorias monoposto. |