A Stock Car Pro Series alcançou nesta temporada um marco emblemático e completou 45 anos de vida, em 22 de abril. Também em 2024, aquela que se consolidou como a principal competição do automobilismo brasileiro caminha para um ponto de virada na sua trajetória e no próprio esporte a motor nacional como um todo. A “era Sedan” de carros da categoria, em ação desde 1979, verá a bandeirada final com o término da última prova do atual campeonato, neste domingo (15/12), para dar lugar a uma revolução que aponta para novos tempos com a vinda da “era dos SUVs”.
Com os modelos Sedans, a Stock Car tornou-se uma das competições mais equilibradas e imprevisíveis do automobilismo mundial, reuniu lendas das pistas e vários pilotos com passagens pela Fórmula 1 e Indy, formou novos ídolos e cativou gerações de fãs ao passar por autódromos clássicos, como Interlagos, Goiânia, Tarumã, Brasília e os saudosos Jacarepaguá e Curitiba, além de ir ao exterior para correr no Estoril (Portugal), Buenos Aires (Argentina) e El Pinar (Uruguai). A era que está prestes a se encerrar também desfilou em pistas únicas como o Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e em circuitos de rua montados em Ribeirão Preto, Salvador e, mais recentemente, em Belo Horizonte.
Um dos maiores emblemas da Stock Car está justamente no mais clássico dos seus modelos. No fim dos anos 1970, a Chevrolet foi uma das idealizadoras da categoria como alternativa à antiga Divisão 1 e colocou em ação o Opala, que até hoje povoa o imaginário dos amantes de carros espalhados pelo Brasil. Foi com os Opalões nas pistas que a Stock pavimentou os 15 primeiros anos da sua história, desde sua origem até 1993.
Uma das grandes premissas da Stock Car sempre foi estar alinhado com o desenvolvimento da indústria automotiva nacional. Parceira histórica da categoria, a Chevrolet promoveu a transição do Opala para o Omega, modelo que causou furor nos anos 1990 e que esteve em ação entre 1994 e 1999.
A chegada do ano 2000 resultou em renovação no grid da Pro Series. Pela primeira vez a competição deixou de usar carros de rua adaptados para o automobilismo para lançar um projeto baseado em chassi tubular específico para competição fabricado pela JL, empresa do ex-piloto Zeca Giaffone, campeão de 1987. Foi nesta época que a Chevrolet promoveu a vinda da primeira versão do Vectra para substituir o Omega, em período que durou até 2003. A partir de 2004, a categoria passou a ver nas pistas o Astra, refletindo o natural processo evolutivo promovido pela montadora norte-americana no mercado brasileiro.
Multimarcas — A temporada de 2005 representou um divisor de águas na Stock Car. Pela primeira vez em sua história, a competição teve no grid carros de duas montadoras distintas. Além da Chevrolet, sempre presente, Mitsubishi estreou com o modelo Lancer, que acelerou até 2008 e conquistou dois títulos, ambos com Cacá Bueno.
Nos anos seguintes, a Pro Series viu a chegada de mais duas marcas de grande tradição no esporte a motor: a Volkswagen, com o modelo Bora (entre 2006 e 2007), e a Peugeot, que permaneceu na competição por dez temporadas (2007 a 2016) e faturou cinco títulos, dois com o 307 Sedan e três com o 408 Sedan. Neste período, a Chevrolet trouxe a nova geração do Vectra para medir forças com as suas oponentes.
Uma nova geração de carros da Stock Car foi apresentada em 2009. O JL-G09, desenvolvido por Nicola Scimeca e Gustavo Lehto, foi concebido para representar uma evolução natural com um protótipo mais tecnológico, seguro e com maior eficiência aerodinâmica, além de nascer com o objetivo de reduzir os custos de manutenção para as equipes.
A Chevrolet deu sequência à sua trajetória na Pro Series com a carenagem dos modelos Sonic (2012 a 2015), e desde 2016 acelera com o Cruze que vai se despedir da Stock Car no próximo domingo, antes da transição para os SUVs. A partir de 2020, a marca da ‘gravatinha’ ganhou outro concorrente de muito peso e história no esporte a motor: a Toyota. Em nova fase, a principal categoria do país passou a contar com carros mais semelhantes aos vistos nas ruas. Ainda equipadas com chassis tubulares, as máquinas atuais têm como base os monoblocos dos carros de rua, aproximando o visual dos carros daquele que o consumidor encontra nas concessionárias.
Nas últimas cinco temporadas, Chevrolet, com o Cruze, e a Toyota, com o tradicional Corolla, entregaram corridas muito disputadas e proporcionaram um incrível duelo de montadoras: em 2023, por exemplo, houve um empate em vitórias, com 12 triunfos para cada.
O ano da revolução — 2025 representará um grande marco para a Stock Car e o automobilismo brasileiro. Será a primeira vez que a categoria brasileira vai competir com o visual dos modelos SUVs (sigla para Veículos Utilitários Esportivos). Muito além de uma mudança importante na geração de carros, a Pro Series rompe com um paradigma histórico e se abre para uma nova era com a revolução que se avizinha.
O que está por vir no ano que vem é o resultado de um projeto ambicioso e que se propõe a trazer para o grid a vanguarda da tecnologia, conectividade e segurança em um carro de corrida no cenário do automobilismo brasileiro, com a perspectiva de ser uma inspiração para o esporte a motor mundial.
Chevrolet e Toyota estarão presentes nesta nova fase da Stock Car e vão competir com os modelos Tracker e Corolla Cross, respectivamente. As duas montadoras ganharão outra concorrente: a Mitsubishi estará de volta à Pro Series em 2025, 20 anos depois do início da sua primeira passagem, e colocará em ação a versão de competição do Eclipse Cross.
A história da “era Sedan” da Stock Car em números
Pilotos que já correram de Stock Car: 414
Corridas já disputadas: 632
Campeões: 19
Vencedores de corrida: 78
Circuitos: 21
Montadoras: 5 (Chevrolet, Mitsubishi, Volkswagen, Peugeot e Toyota)
Modelos diferentes: 11
Modelo, anos de participação, temporadas disputadas:
Chevrolet Opala, 1979 a 1993, 15 temporadas*, 15 títulos
Chevrolet Omega, 1994 a 1999, seis temporadas, seis títulos
Chevrolet Vectra, 2000 a 2003; e 2009 a 2011, sete temporadas, quatro títulos
Chevrolet Astra, 2004 a 2008, 5 temporadas, dois títulos
Mitsubishi Lancer, 2005 a 2008, 4 temporadas, dois títulos
Volkswagen Bora, 2006 e 2007, 2 temporadas
Peugeot 307 Sedan, 2007 a 2010, 4 temporadas, dois títulos
Peugeot 408 Sedan, 2011 a 2016, 6 temporadas, três títulos
Chevrolet Sonic, 2012 a 2015, 5 temporadas, três títulos
Chevrolet Cruze, 2016 a 2024, 9 temporadas, seis títulos
Toyota Corolla, 2020 a 2024, 5 temporadas, um título
*De 1987 a 1989, na versão Chevrolet Opala Caio-Hidroplas. De 1990 a 1993, versão Chevrolet Opala Protótipo.
Maior vencedor da história
Ingo Hoffmann, 77 vitórias
Maior campeão da história
Ingo Hoffmann, 12 títulos
Maior vencedor em atividade
Thiago Camilo, 41 vitórias
Maior campeão em atividade
Cacá Bueno, 5 títulos
Todos os campeões da Stock Car na “era Sedan”
1979 – Paulo Gomes
1980 – Ingo Hoffmann
1981 – Affonso Giaffone Júnior
1982 – Alencar Junior
1983 – Paulo Gomes
1984 – Paulo Gomes
1985 – Ingo Hoffmann
1986 – Marcos Gracia
1987 – Zeca Giaffone
1988 – Fábio Sotto Mayor
1989 – Ingo Hoffmann
1990 – Ingo Hoffmann
1991 – Ingo Hoffmann/Ângelo Giombelli
1992 – Ingo Hoffmann/Ângelo Giombelli
1993 – Ingo Hoffmann/Ângelo Giombelli
1994 – Ingo Hoffmann
1995 – Paulo Gomes
1996 – Ingo Hoffmann
1997 – Ingo Hoffmann
1998 – Ingo Hoffmann
1999 – Chico Serra
2000 – Chico Serra
2001 – Chico Serra
2002 – Ingo Hoffmann
2003 – David Muffato
2004 – Giuliano Losacco
2005 – Giuliano Losacco
2006 – Cacá Bueno
2007 – Cacá Bueno
2008 – Ricardo Maurício
2009 – Cacá Bueno
2010 – Max Wilson
2011 – Cacá Bueno
2012 – Cacá Bueno
2013 – Ricardo Maurício
2014 – Rubens Barrichello
2015 – Marcos Gomes
2016 – Felipe Fraga
2017 – Daniel Serra
2018 – Daniel Serra
2019 – Daniel Serra
2020 – Ricardo Maurício
2021 – Gabriel Casagrande
2022 – Rubens Barrichello
2023 – Gabriel Casagrande
Créditos da foto: Acervo WE