O brasileiro, que estréia neste fim de semana no Bahrein, foi do kart para a GP2 em praticamente um ano e meio.
“No aspecto fÁsico, ele será muito exigidoâ€, afirma Vanderlei Pereira, que explica quais os desafios dos pilotos em carros muito velozes e potentes
Sérgio Jimenez não será um estreante comum entre os 14 que farão sua primeira corrida na Fórmula GP2, neste fim de semana, no circuito do Bahrein. Há praticamente um ano e meio, em novembro de 2005, Jimenez ainda era habitualmente visto no kartódromo de Interlagos, competindo entre a garotada que sonha em um dia chegar Á Fórmula 1. Agora, ele vai disputar uma corrida no torneio que é a ante-sala deste sonho, o último filtro antes da categoria máxima do esporte. Além de uma façanha notável para alguém que praticamente conta apenas com o próprio talento, trata-se também de um desafio técnico e fÁsico, conforme explica Vanderlei Pereira, o atual preparador fÁsico dos dois brasileiros que militam na Fórmula 1, Rubens Barrichello e Felipe Massa:
“O Jimenez saiu do kart para a Fórmula 3 da Espanha, pulando de um micromonoposto que gera cerca de 1,5 g para um monoposto capaz de atingir 2,3 g, aproximadamenteâ€, diz Vanderlei Pereira. “Na GP2, ele enfrentará forças g (unidade que equivale Á força exercida pela gravidade da Terra) de até 3 g. Ou seja, em apenas um ano e meio as forças que atuam sobre seu corpo em uma corrida dobraram. Eu nunca trabalhei com um piloto que desse um salto desses, mas sei que o Sérgio vai se dar muito bem, pois faz uma preparação sériaâ€, resume Pereira, que trabalha com pilotos desde 1991.
Intensidade e duração – Jimenez encara seu desafio com naturalidade e confiança. Mas destaca outro aspecto importante, além da própria força g: “A GP2 faz duas provas por fim de semana, uma com uma hora de duração e outra com 45 minutos. Antes, na Fórmula 3, minhas corridas tinham apenas 30 minutos. Então, o que aumentou não foi apenas a intensidade da força g com a qual vou lidar na GP2, mas também sua duraçãoâ€, explica o piloto. “Por isso, fizemos adaptações no programa de treinamento fÁsico, visando essa maior duração das corridasâ€, observa o preparador Vanderlei Pereira. “Aumentamos tanto a carga de trabalho muscular (visando suportar os picos de força) quanto a carga aeróbica (que tem como objetivo garantir melhor oxigenação dos músculos e do cérebro e permitir que o piloto sinta menos cansaço ao final de cada corrida)â€, completa o preparador fÁsico.
Jimenez também fez treinamentos no simulador de corridas da Academia V10, dirigida por Pereira. “Esta máquina pode reproduzir as reações e exigências de vários tipos de carro e, então, ajustamos suas regulagens para simular corridas com bólidos da GP2, tanto no quesito carga de força g quanto na duração das provas, entre vários outros parâmetrosâ€, detalha Pereira. Segundo o preparador, para estar apto a conduzir um carro de Fórmula 1 no limite, um piloto deve ser capaz de suportar cargas de até 4,5 g.
Força g já cancelou corrida – Para se ter uma idéia do que a força g é capaz, em 29 de abril de 2001 a etapa do Texas da Fórmula Mundial (atual Champ Cars) foi cancelada, pois os pilotos sentiam vertigens depois de apenas dez voltas pela pista. Constatou-se que os competidores estavam sendo submetidos a forças de aproximadamente 5 g nas curvas, ou seja, enfrentavam forças de até cinco vezes o seu peso. O fenÁ´meno impedia a correta circulação do sangue – e isso em pilotos fisicamente bem preparados.
Calcula-se que, com 5 g, o pescoço de um piloto seja submetido a esforços equivalentes a mais de 30 quilos a fim de segurar a cabeça no lugar. O coração humano, que em sua evolução de milhões de anos jamais enfrentou situações similares, também suporta cargas maiores do que as que naturalmente trabalha, pois tem que bombear sangue para os órgãos nestas condições – e isso pode afetar o funcionamento do cérebro, gerando vertigens e, em situações limite, até desmaios.