Fórmula-1: Pioneiro, piloto e construtor, Wilsinho Fittipaldi falece aos 80 anos

Faleceu nesta sexta-feira (23/02), o ex-piloto e construtor de F-1 Wilsinho Fittipaldi. Ele estava internado desde o dia 25 de dezembro do ano passado, quando se engasgou com um pedaço de carne, durante um almoço em família, quando comemoravam o seu aniversário de 80 anos.  Com dificuldades para respirar, Wilsinho teve uma parada respiratória, sendo hospitalizado. Sedado e intubado, Wilsinho apresentou espasmos nas tentativas de retirar a sedação.

Wilsinho, assim como o irmão mais novo Emerson Fittipaldi, cresceu no mundo das corridas, através do pai Wilson Fittipaldi, o Barão, radialista e grande incentivador do automobilismo brasileiro (foi o criador das Mil Milhas Brasileiras, e uma da vozes da Fórmula-1 no rádio).

Ele começou a competir na juventude, inicialmente nas motocicletas. Na década de 1960 passou a integrar a famosa Equipe Willys, em provas de turismo. Em 1966 teve a primeira experiência na Europa, disputando algumas provas da F-3 Francesa com carros da Alpine e Pygmée.  Fez também a Temporada Argentina, que atraia os principais pilotos europeus para as provas no país sul-americano, com o Wyllis Monoposto.

Junto com Emerson iniciou também a construção de diversos carros, como o Fitti-Porsche (feitos do que restou de um Porsche destruído depois de um acidente com Emerson), o Fitti-Fusca (equipado com dois motores), e carros de F-Vee. Comercializando também acessórios, e equipamentos de segurança (representado o pioneiro no segmento Les Leston).

Em 1970 Wilsinho seguiu os passos do irmão (que tinha ido para Inglaterra no ano anterior, e logo chegou a F-1), indo disputar a F-3 Britânica. Com um Lotus 59 da Jim Russell Driving School, venceu três provas, terminando em quarto no B.A.R.C. Forward Trust.

No ano seguinte subiu para a F-2 Europeia, sendo parceiro de Emerson no Team Bardhal, guiando uma Lotus 69C e um March 712M. Com boas atuações, terminou em sexto no campeonato. Ainda em 1971 estreou na F-1, no GP da Argentina, disputado de forma extracampeonato. Como parceiro de Emerson no Team Lotus, guiou um Lotus 49C. Disputada em duas baterias, Wilsinho terminou a primeira em oitavo, e abandonou a segunda. No Torneio Internacional de F-3, em Interlagos, Wilsinho venceu duas, das três provas, com um Lotus 59. Sendo o Campeão do torneio.

Em 1972 chegou oficialmente a F-1. Levando patrocínios brasileiros, conseguiu a vaga de terceiro piloto da Brabham, tendo como parceiros o bicampeão Graham Hill e o argentino Carlos Reutemann, também iniciando na F-1. Em março foi disputado o primeiro GP do Brasil de F-1, de forma extracampeonato, em Interlagos. Com um Brabham BT33-Ford, Wilsinho terminou em terceiro, o seu melhor resultado em uma prova de F-1.

Sem ter o mesmo equipamento que Hill e Reutemann, o melhor resultado nos GPs oficiais foram dois sétimos lugares, na Espanha e Alemanha. Na F-2 fez algumas provas, com um Brabham inscrito pelo Team Bardhal.

Sendo preterido por Reutemann na equipe, Wilsinho teve que mostrar todo o seu talento em 1973. Em Mônaco, ocupava a terceira posição, quando a injeção de combustível quebrou, faltando sete voltas para o final. Pontuando duas vezes, com o sexto lugar no GP da Argentina e o quinto no GP da Alemanha.

Em julho venceu a I Coppa di Santamonica, prova extracampeonato de F-2, com um Brabham BT40. Sua única vitória na F-2.

Cansado de investir o dinheiro dos patrocinadores na Brabham, Wilsinho decidiu montar uma equipe e construir o próprio carro de F-1. Iniciando o processo de formação da equipe, que seria sediada perto de Interlagos, no início de 1974. Contratando um staff experiente como os mecânicos Jo Ramirez (vindo da Tyrrell) e Yoshiatsu Itoh (vindo da Lotus), e deixando o projeto do carro com Ricardo Divila, com experiência na preparação de seus carros na F-2.

No GP Grande Premio Presidente Emilio Medici, prova extracampeonato de F-1, disputada no Autódromo de Brasília, Wilsinho interrompeu por alguns dias os trabalhos na equipe, E guiou um Brabham BT44, terminando a prova em quarto. Iniciando o projeto com recursos próprios, Wilsinho enfrentou vários revezes na busca por patrocínios, até chegar a um acordo com a Copersucar, uma cooperativa produtora de açúcar. 

Primeiro carro de F-1 construído no Brasil, o FD01, passou por exaustivos testes durante 1974, contando com o apoio de diversas empresas brasileiras para o fornecimento de peças, além da Embraer, para o desenvolvimento aerodinâmico. O carro foi equipado com o motor Ford Cosworth DFV de 3 litros.

Seguindo os passos de Jack Brabham, Bruce McLaren e Dan Gurney, Wilsinho estreou com seu próprio F-1 no GP da Argentina de 1975. O carro recebeu uma bela pintura na cor prata, e apresentava um visual atraente, principalmente na carenagem cobrindo o motor (que ao contrário do alguns relatos, não era algo inédito na F-1). A estreia contudo não foi animadora.  Wilsinho foi o mais lento nos treinos classificatórios, e alinhou em último. Logo na volta 13 o piloto sofreu um acidente, e o FD01 foi consumido pelas chamas, ficando totalmente destruído.

Foram construídos mais dois carros durante o ano, FD02 e FD03. Mas o desempenho foi fraco, com muitos problemas técnicos. Nos treinos para o GP da Áustria. Wilsinho quebrou uma mão em um acidente, ficando fora do GP da Itália. Sendo substituído pelo italiano Arturo Merzario. Em seu último GP na F-1, nos EUA, terminou em décimo, o melhor resultado da equipe no ano. Foram 35 GPs disputados.

Wilsinho decidiu se concentrar apenas na direção da equipe. Emerson, com dificuldades em renovar com a McLaren, contou com a ajuda da Copersucar (que aceitou pagar o salário que recebia na McLaren), e se tornou piloto da equipe a partir de 1976. No ano seguinte a equipe adotou uma pintura em amarelo.

A Copersucar patrocinou a equipe até 1979. Em 1980 a Skol foi a patrocinadora.  Depois foram dois anos de poucos recursos financeiros, e resultados.

Até 1982, quando encerrou as atividades devido à falta de patrocínio, aliada a crise financeira brasileira, e o aumento dos custos com o advento dos motores turbo, a Equipe Fittipaldi disputou 104 GPs. Conquistando um segundo e dois terceiros.

Wilsinho voltou as competições no Brasil, disputando a Stock Car entre as décadas de 1980 e 1990. Vencendo duas provas. Em 1991 ele foi vice-campeão da categoria.

Em 1994 ele venceu, ao lado do filho e também piloto de F1, Christian Fittipaldi, as Mil Milhas Brasileiras, com um Porsche. No ano seguinte voltou a vencer a prova idealizada por seu pai, dividindo a condução do Porsche com Antônio Hermann e Franz Konrad.

Wilsinho continuou envolvido com o esporte, entre outros projetos, no ressurgimento da F-Vee.

Em 2008 ele fez um breve retorno as pistas, para comemorar os seus 50 anos de carreira. Com um Porsche, inicialmente em dupla com Emerson, disputou a GT3 Brasil. Em 2012 Wilsinho foi diagnosticado com Parkinson.

No GP de São Paulo de F-1 do ano passado, Wilsinho foi um dos convidados. Revendo amigos de décadas, e sendo reverenciado por todos, como um dos maiores nomes do automobilismo brasileiro. 

Wilsinho deixa a esposa Rita, e os filhos Christian e Roberta, filhos dele com a primeira esposa, Suzy.

Tive o prazer de conhecer Wilsinho em 2008, cobrindo justamente a GT3 Brasil. Vá em paz, Tigrão, e muito obrigado por tudo que fez pelo esporte.  

Robson Miranda