Como era o melhor piloto da Fórmula 1 na visão do sobrinho
Os 20 anos da morte de Ayrton Senna, no trágico fim de semana do GP de Ámola de 1994, estão sendo lembrados em todo o mundo. Personagem obrigatório das reportagens da mÁdia internacional e brasileira que recordam as duas décadas sem o melhor piloto da história da Fórmula 1, Bruno Senna – sobrinho do tricampeão mundial – comenta diversos temas relacionados ao tio. E relata sua visão sobre um nome que surpreende por se manter cada vez mais marcante na memória de todos apesar da passagem do tempo desde aquele fatÁdico 1º de maio.
As primeiras memórias – “São da época em que ele regressava ao Brasil ao final da temporada. Ele sempre trazia brinquedos incrÁveis para mim e minhas irmãs, principalmente do Japão. Lembro que ganhei vários carrinhos rádio-controlados com os quais eu começava a brincar imediatamente.”
Ayrton fora das pistas – “Ele era um cara relaxado, bem do tipo famÁlia. Sempre procurava ajudar os outros e aproveitar bem esse perÁodo de descanso ao fim do campeonato. Aproveitava também para dormir bastante e zoar com os convidados que apareciam em casa em Angra dos Reis, enchendo o prato deles de pimenta quando não estavam olhando. Gostava ainda de empurrar as pessoas na piscina ou no mar, principalmente se elas tinham acabado de tomar banho.”
Onde estava no dia do acidente – “Estava em casa com a famÁlia. Claro que ficou tudo muito confuso. As informações não eram muito precisas e o estresse foi muito grande até que sua morte fosse confirmada. Depois disso, tivemos um pouco de tempo para aceitar a perda, mas felizmente somos uma famÁlia unida e centrada, e todos puderam se apoiar naquele momento difÁcil.”
A famosa frase: “Se acham que sou rápido, esperem até ver meu sobrinho.” – “Significa basicamente que ele achava que eu tinha habilidade para encará-lo nas corridinhas de kart na fazenda. Ter sucesso no automobilismo vai muito além de ser veloz, mas depende de ter a cabeça boa e estar no lugar certo e na hora certa.”
A pressão do nome – “O nome Senna sempre foi motivo de orgulho para mim, mas também fator de pressão extra. Mas é claro que me ajudou muito a conquistar apoios no inÁcio da minha carreira.”
O legado – “O legado do Ayrton é muito abrangente. Vem, acredito, da forma como conseguia tocar os mais diversos tipos de pessoas com aquilo que representava. Existe o aspecto mais básico, que é o do piloto e das suas incrÁveis façanhas nas pistas. Todos os fãs de corrida tem essa nostalgia e as memórias inesquecÁveis de disputas por posição, grandes corridas na chuva, além, é claro, das classificações. Para outras pessoas, o grande legado está voltado Á sua personalidade fora das pistas. Alguém que era tão bem-sucedido e amado no esporte, mas conseguiu transcender o esporte e se tornar um exemplo de princÁpios de vida. CaracterÁsticas como determinação, obstinação, perfeccionismo, senso de justiça e patriotismo fizeram do Ayrton alguém muito diferenciado num esporte onde a polÁtica sempre reinou. Ainda nas pistas, as medidas de segurança nos carros e nos autódromos foram reforçadas, a tal ponto que ninguém mais morreu numa corrida de Fórmula 1. Mas, na minha opinião, seu maior legado é o Instituto Ayrton Senna, fundado pela minha mãe, Viviane, para levar adiante um grande sonho do Ayrton: dar oportunidade Á s crianças e jovens preencherem seus potenciais e atingirem sucesso na vida. Ate hoje, mais de 10 milhões de crianças e jovens passaram pelos diversos programas educacionais do Instituto por todo o Brasil. Mesmo aqueles que nunca chegaram a ver o Ayrton correndo o conhecem e foram tocados por ele de alguma forma.”
Uma curiosidade – “Parece que todos têm uma história diferente sobre o Ayrton, mas a minha favorita é uma que ouvi do Nigel Mansell. Ele me disse que, quando venceu o campeonato de 1992 e estava saboreando a conquista no pódio, o Ayrton, que estava ao seu lado, disse para ele: “”Tá curtindo, né? Por que você acha que me esforço tanto?”