Coluna: Tributo aos heróis brasileiros, por Robson Miranda

Felipe Massa escreveu o seu nome como o sexto brasileiro a vencer na F-1, com a vitória no GP da Turquia, pilotando uma Ferrari. Foi o 89º triunfo do paÁ­s na história da mais importante categoria do automobilismo mundial. Vitórias iniciadas em 1970 com Emerson Fittipaldi.


Antes de Emerson Fittipaldi alinhar a sua Lotus no GP da Inglaterra de 1970, o retrospecto brasileiro na F-1 era insignificante.  Quatro pilotos tinham alinhado em apenas 18 GPs do Mundial. O melhor resultado havia sido o 4º lugar de Chico Landi no GP da Argentina de 1956, com um Maserati. Fritz D’Orey, num Tec-Mec, finalizou aquela época, ao alinhar para o GP dos EUA de 1959. Depois foram 106 GPs, toda a década de sessenta e inicio da temporada de 1970, sem nenhum representante brasileiro na F-1.

Emerson, pinçado por Colin Chapman da F-3, logo assumiu a liderança da equipe, com a morte do austrÁ­aco Jochem Rindt, nos treinos para o GP da Itália. E venceu pela primeira vez nos EUA, dando o titulo post-mortem para Rindt.  Foi a primeira de suas 14 vitórias na F-1, a última, já bi-campeão da categoria em 1972 e 1974, no GP da Inglaterra de 1975, com uma McLaren. Foi também a primeira dobradinha do paÁ­s, com o 2º lugar de José Carlos Pace, da Brabham.


Pace, conhecido como Moco, foi o segundo brasileiro a vencer, no GP do Brasil de 1975, com uma Brabham. A imagem dele, cercado pelo público, depois da bandeirada é inesquecÁ­vel. Pace faleceu no inÁ­cio de 1977, no auge da carreira, em um acidente de avião, no interior de São Paulo. Ele estreou na F-1 em 1972.


Com a morte de Moco e a entrada de Emerson, como piloto, no sonho da equipe Fittipaldi, o Brasil viveu um perÁ­odo sem vitórias. Até a chegada de Nelson Piquet em 1978.


Piquet, com a aposentadoria de Nick Lauda no final de 1979, foi a aposta de Bernie Ecclestone para levar a Brabham de volta aos tÁ­tulos, que não vinham desde a década de sessenta. Piquet venceu pela primeira vez no GP dos EUA-Oeste, de 1980, tendo a companhia no pódio de Emerson Fittipaldi, que em 3º lugar, conquistou o último troféu de sua carreira na F-1. No final do ano Emerson deixou a F-1.


Piquet conquistou três Campeonatos Mundiais de F-1, dois pela Brabham, em 1981 e 1983 e um pela Williams, em 1987. Foram 23 vitórias até a última temporada em 1991.


Com Piquet já bi-campeão, estreou, em 1984, Ayrton Senna, que havia feito miséria no Campeonato Inglês de F-3 de 1983. Logo nas primeiras corridas ele começou a encantar o publico. No GP de MÁ´naco, abordo de sua modesta Toleman, Senna mostrou pela primeira vez o que seria a sua marca registrada. Debaixo de um temporal ele foi ganhando posições até chegar ao 2º lugar. E estava pronto para passar o francês Alain Prost, quando o ex-piloto de F-1, o belga Jacky Ickx, diretor da prova, deu a bandeirada de chegada para o francês. Começava ali a história de um dos maiores pilotos que o mundo já viu.


Senna foi para a Lotus em 1985, vencendo pela primeira vez na encharcada pista de Estoril, em Portugal.  Em 1986, no GP da Hungria, o duelo pela vitória entre Senna e Piquet, com Nelson realizando uma incrÁ­vel ultrapassagem sobre Senna na travada pista de Budapeste é daqueles de se ver repetidas vezes.


Em 1988 Senna foi contratado pela McLaren, para ser companheiro de Alain Prost. Foram dois anos sensacionais, de disputas memoráveis entre os dois. Senna conquistou o seu primeiro tÁ­tulo em 1988, sendo bi em 1990 e tri em 1991. Com a vontade se continuar acelerando forte viva ele foi para a Williams em 1994, sendo considerado totalmente favorito ao tÁ­tulo, pois a equipe inglesa vinha de dois tÁ­tulos de pilotos consecutivos. 


Infelizmente o casamento do piloto perfeito com o carro perfeito acabou em tragédia. A maior da toda a história da F-1. Muitos pilotos que marcaram época na F-1 morreram na pista, mas a morte de Senna chocou o mundo.


Depois de fazer a pole-position nas duas primeiras etapas do Mundial, e não terminar ambas, Senna chegou a San Marino disposto a começar, de fato, a luta pelo seu quarto tÁ­tulo mundial. Mas o fim de semana se tornaria um dos mais trágicos de todos os tempos. Nos treinos de sexta-feira o brasileiro Rubens Barrichello, da Jordan, sofreu um acidente, em que decolou com seu carro, e por milagre, nada sofreu. Foi o inicio de tudo.


No sábado o novato austrÁ­aco Roland Ratzemberger, da Simtek, sofreu um acidente destruindo o seu carro, morrendo praticamente na hora. Senna foi um dos pilotos mais abalados com a morte de Ratzemberger, mas profissional com poucos, alinhou na pole-position para a largada do GP de San Marino, na manhã do dia 1º de maio.


Senna liderava a prova, quando sofreu o acidente que o vitimou. O seu carro saiu da pista, batendo no muro, voltando para a pista. A imagem dele imóvel dentro do carro fez todos que assistiam Á  corrida ficarem perplexos. Os reais motivos que fizeram a Williams sair da pista até hoje são um mistério. A causa da morte de Senna foi um pedaço da suspensão que furou a viseira do capacete do piloto.


O Á­dolo de um paÁ­s, o piloto que fazia o brasileiro levantar cedo nas manhãs de domingo estava morto, trazendo um enorme vazio a todos os amantes da F-1. Senna venceu 43 GPs na F-1. Conquistou incrÁ­veis 65 pole-position, recorde só batido este ano por Michael Schumacher.


Rubens Barrichello, que fazia a sua segunda temporada na F-1 naquele ano, foi alçado então como o herdeiro das vitórias e tÁ­tulos conquistados nas últimas décadas. Mesmo sendo considerado por todos os profissionais que acompanham a F-1 como um dos melhores pilotos da categoria, na era pós-Senna, ele sempre conviveu com a desconfiança do brasileiro, acostumado Á s vitórias constantes do paÁ­s na F-1.


Contratado em 2000, pela Ferrari, para ser companheiro de equipe do alemão Michael Schumacher, maior astro da F-1 atual, Rubens viveu entre o céu e o inferno na equipe de Maranelllo. Conquistou a sua primeira vitória logo no primeiro ano, na Alemanha. Mas os constantes favorecimentos da equipe a Schumacher, em que era obrigado a ceder Á  posição toda vez que o alemão precisava, muitas vezes prejudicando as suas corridas, não eram bem vistos pelos brasileiros. E infelizmente um estigma de perdedor foi se criando em sua carreira para o público brasileiro.


Neste ano Rubens resolveu assumir um novo desafio, sendo contratado pela Honda. Na Ferrari foram nove vitórias. A equipe nipÁ´nica tem condições de levar Barrichello a novas vitórias em breve.


Para o lugar de Barrichello a Ferrari contratou Felipe Massa, que está desempenhando o mesmo papel de Rubens, ou seja, de fiel escudeiro de Schumacher. Mas com um contrato de apenas um ano, ele tem que mostrar a equipe que tem condições de continuar nas próximas temporadas, com a eminente aposentadoria do heptacampeão mundial. Que declarou que se continuar na F-1 em 2007, quer Massa como companheiro.


E a vitória de forma incontestável na Turquia pode ter garantido a Massa a renovação de seu contrato e a certeza de novas vitórias.