O consultor automotivo Cassio Pagliarini destaca que diversos fatores culminaram na atual tendência das montadoras em optar por vender menos unidades e elevar os preços. Ele explica que a inflação de commodities, como aço, alumínio, vidro e plástico, teve um impacto significativo, amplificado pela valorização do dólar. A simples variação desses custos já resultou no aumento dos preços dos veículos.
No entanto, Pagliarini ressalta que não apenas a variação dos preços das matérias-primas afetou o mercado. As exigências legais também estão em constante crescimento, com regulamentações como as do Proconve para emissões e medidas de segurança, como controle de estabilidade. A necessidade de incorporar equipamentos mais caros em veículos de menor custo pressiona os preços, levando algumas montadoras a retirarem produtos do mercado para se adequarem às novas normativas.
Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, explica que o modelo tradicional da indústria automotiva, focado em volume e lucros provenientes de carros mais acessíveis, foi impactado pela pandemia. A falta de componentes para a produção em massa fez com que as montadoras direcionassem seus esforços para veículos de maior valor agregado, visando maior rentabilidade em unidades vendidas.
O caso emblemático da Ford ilustra essa mudança estratégica. Após encerrar suas operações fabris no Brasil em 2021, a marca se concentrou em se tornar uma importadora de veículos em 2022. Apesar das demissões e da reestruturação, a Ford registrou lucros superiores a 300 milhões de dólares na América do Sul no primeiro ano completo sob o novo modelo de negócios. Ao abandonar modelos consolidados como Ka e Ecosport, a empresa alcançou resultados sólidos, algo que não ocorria desde 2013 quando era considerada uma das “quatro grandes” do setor. Essa transição exemplifica como a estratégia de vender menos, porém com maior rentabilidade, pode ser benéfica para as montadoras em um cenário desafiador.