Neste domingo (12), o Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), será palco de uma das provas mais tradicionais do esporte a motor brasileiro. As ‘500 Milhas de Motovelocidade’ chegam Á sua 20ª edição e prometem repetir grandes disputas no circuito mais famoso do paÁs. Em uma corrida com aproximadamente seis horas de duração, os pilotos precisarão mostrar consistência, muita habilidade e, principalmente, excelente trabalho em equipe. Uma das caracterÁsticas principais desta prova é o revezamento dos competidores. Ou seja, cada time pode ter entre dois a quatro pilotos que alternam o comando de uma única moto. Assim, o trabalho eficiente nos boxes, tanto na passagem quanto na manutenção da parte mecânica, é fundamental para as equipes que desejam entrar forte na disputa pelo tÁtulo.
Criada em 1970, as ‘500 Milhas’ já superaram quatro décadas de existência e chegam a seu momento de maior regularidade após um perÁodo de interrupção nos anos de 1990. A prova voltou a ser realizada em 2009 e desde então vem sendo disputada anualmente. Muitos pilotos já completaram a extenuante corrida e ergueram o merecido troféu. Nos anos setenta, a dupla japonesa Akiusu Motoashi e Hirowuki Kawasaki venceu por duas vezes. Em 1985 foi a vez dos irmãos Santo e CecÁlio Feltrin conquistarem o tÁtulo. Na era mais recente, Alan Douglas se tornou o grande nome das ‘500 Milhas de Motovelocidade’. O piloto paulistano ganhou destaque ao vencer as últimas quatro edições de forma consecutiva e se tornar, ao lado de Alessandro Brieda ‘Doca’, tetracampeão.
Recentemente aposentado das pistas, Alan Douglas destaca dois pontos importantes para que um time seja um forte concorrente nas ‘500 Milhas’: trabalho em equipe e sintonia entre os pilotos. â€œÉ fundamental ter um bom trabalho de equipe nos boxes, como nos momentos de abastecimento e troca de pneus. Lógico que não se ganha corrida nos boxes, mas um erro pode colocar tudo a perder. E dentro da pista, os pilotos precisam estar em sintonia para entender que é preciso ser rápido, mas também economizar equipamentos. A equipe que conseguir manter um ritmo entre 1m41s a 1m48s por volta será a vencedora desta temporadaâ€, prevê o tetracampeão.
A briga pelo tÁtulo deste ano das ‘500 Milhas’ promete ser acirrada e diversas equipes entram no páreo para garantir o lugar mais alto no pódio. Entre elas está a Tecfil Racing Team. O time é liderado pelo atual vice-campeão Brasileiro da SuperBike, Danilo Lewis, que tem ao seu lado os companheiros Cesar Barros – irmão de Alex Barros, o maior nome da motovelocidade brasileira -, Marcio Bortolini e Diego Viveiros.
“Estou muito contente de fazer parte da Tecfil. Temos quatro pilotos muito bons e uma equipe fantástica. Nós vamos pra cima e estamos confiantes em conseguir um bom resultadoâ€, revela Diego Viveiros, piloto que detém o tÁtulo Brasileiro da categoria SuperSport Pro Amador. Apesar disso, para ele, a meta de alcançar o tÁtulo não será nada fácil. Viveiros destaca que será preciso ter um grande afino no trabalho em equipe, além de muita resistência fÁsica para manter o ritmo constante ao longo de quase 50 voltas na pista.
Já na avaliação de Marcio Bortolini – piloto paranaense destaque na temporada 2016 do Campeonato Brasileiro de Motovelocidade -, a equipe Tecfil está preparada e entra de forma bastante consistente na disputa.
“Temos consciência de que o nosso time é rápido e pode sair da prova com uma vitória. Porém, para alcançarmos esse tão sonhado e restrito espaço de ‘Campeões das 500 Milhas’, sabemos que temos de trabalhar duro e sermos impecáveis dentro e fora da pista, principalmente nos abastecimentos, transições de pilotos e troca de pneusâ€, pontua Bortolini.
Já outra esperança de vitória vem da região paulista do Grande ABCD. A Misano Racing Team, time comandado por Daniel Toloni, participa desta edição com duas motos. O plantel principal conta com o próprio Toloni e seus companheiros James Michael, MaurÁcio Paludete e Rodrigo Cabeça. No segundo, a motocicleta será compartilhada entre os pilotos Sergio Hidani, José Cunha e Ricardo Seiji Hayashi.
Para alcançar a vitória, a Misano tem como estratégia principal manter um ritmo cadenciado na pista, porém, não tão rápido para assim evitar desgaste excessivo dos equipamentos. Esta tática é resultado da experiência da equipe na prova. O time já participou por três vezes das ‘500 Milhas’ e obteve dois terceiros e um quarto lugares. Para seguir este planejamento, segundo Toloni, a parte fÁsica dos competidores precisa estar em dia. “O mais importante é o piloto ter um bom condicionamento. Do contrário, depois de algum tempo de prova, o rendimento dele começa a cair e as voltas passam a ser mais lentas. Com isso o piloto começa a exigir mais da moto, passa a errar mais e o desgaste se torna prematuroâ€, ressalta.
Mais uma equipe que promete entrar forte na briga é a Masut Racing Team. Representante da região Centro-Oeste do paÁs, o time da capital goiana comandado por Leopoldo Bittar, contará novamente com a participação do paulistano Alex Schultz, atual campeão Paulista pela categoria SuperSport. Já o terceiro integrante inscrito, Juninho Trudes, ainda é dúvida para a prova devido a uma lesão no ombro. Porém, mesmo com a possibilidade de baixa no plantel, Schultz está bastante motivado para a disputa desta edição das ‘500 Milhas’.
“Esta é uma corrida que eu gosto muito. Ela é diferente e bastante longa. Então é preciso ter a cabeça no lugar. O controle mental é importante, tanto dentro dos boxes quanto na pistaâ€, comenta. Para se sair bem na prova, segundo o piloto, o time precisa evitar, a qualquer custo, possÁveis quedas ou quebras mecânicas. Este seria o fim da participação. Além disso, pontua, é importante evitar infrações, que resultem em tempo acrescido ao final de prova.
Especificamente para a Masut, que inscreveu três participantes, o desgaste fÁsico será ainda mais intenso do que para as demais equipes com quatro pilotos. As ‘500 Milhas de Motovelocidade’ somam 187 voltas no traçado do Autódromo de Interlagos. Ou seja, cada um dos competidores terá que entrar ao menos três vezes na pista e cumprir cerca de 20 voltas em cada, somando um total de 60 voltas. Apenas para medida de comparação, uma prova regular do Campeonato Brasileiro tem em média 15 voltas em sua categoria de elite.
“A parte fÁsica é totalmente diferente de uma prova de curta duração. O ritmo não é frenético e tão rápido quanto em uma prova curta. Porém, a fadiga fÁsica é muito grande. Esta é uma prova de resistência e o piloto tem que estar com um bom condicionamento fÁsico e a capacidade mental ainda melhor. Já vi pilotos saindo da pista, pela segunda ou terceira vez, e desmaiarem devido ao excesso de calor ou pelo esforçoâ€, revela Schultz.
E juntando-se a todas estas particularidades, o perÁodo de chuvas e de grande variação climática do verão paulistano traz ainda, possivelmente, a maior dificuldade mencionada pelos participantes: estar preparado para realizar a corrida nas mais diversas condições de pista. Esta é também uma das preocupações de Brenno Floriano, integrante da equipe Pitico Race Team. O piloto irá disputar as ‘500 Milhas de Motovelocidade’ ao lado dos companheiros Alexandre Borges, Alexandre Muniz e Ricardo Negretto, todos a bordo de uma BMW S1000XR.
“Minha expectativa é boa. Nossa moto está sendo acertada. Vamos fazer os treinos de sexta-feira e de sábado, e ver se o tempo vai colaborar e não chover. Acredito que vamos conseguir dar mais voltas [sem abastecer] por utilizarmos uma motocicleta que não tem tanta traçãoâ€, comenta Brenno.
As primeiras movimentações da 20ª edição das ‘500 Milhas de Motovelocidade’ iniciam na manhã desta sexta-feira (10) com a realização dos primeiros treinos livres. Além da categoria de principal, será mantida a prova de ‘100 milhas’, iniciada em 2015, e terá a estreia de mais duas corridas de curta duração: uma para motos de 600cc (SuperSport) e outra para motos 1.000cc (SuperBike e SuperBike Light). No dia seguinte, no sábado, os pilotos retornam ao Autódromo de Interlagos para a disputa das sessões classificatórias. Já no domingo, a briga vale o tÁtulo de uma das mais importantes provas de motovelocidade do paÁs.