História mostra que a categoria é a maior formadora de pilotos da América do Sul. E o Brasil foi seu maior beneficiado.
A rodada dupla que o Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3 realizará nos próximos dias 25 e 26 de novembro, em Interlagos, encerrará a 20ª temporada da categoria no continente. Neste perÁodo, a Fórmula 3 revelou e formou diversos nomes que fizeram história no automobilismo mundial, firmando-se como o maior celeiro de pilotos de alto nÁvel da América do Sul. A temporada de estréia foi disputada em 1987, já com o primeiro tÁtulo de um piloto brasileiro: o talentoso gaúcho Leonel Friedrich surpreendeu a bordo de um chassi Berta Mk III equipado com motor VW. Mas foi uma vitória binacional, já que Friedrich era piloto da competente equipe argentina INI Competición.
A primeira corrida aconteceu no autódromo de Cascavel, no Paraná, já com a marca da rivalidade que se veria nos próximos anos: a pole do igualmente talentoso argentino Guillermo Maldonado (Berta MkIII/VW) não foi convertida em vitória, façanha que ficou com o arrojado brasileiro Friedrich. Foi um resultado importante já inicialmente, pois Maldonado vinha de quatro tÁtulos da Fórmula 2, categoria que foi extinta para a instalação da Fórmula 3 no continente. “PaÁses com maior tradição no esporte, Brasil e Argentina realmente dominaram o cenário da Fórmula 3, com duelos e corridas antológicasâ€, lembra Dárcio dos Santos, único piloto que competiu nos primeiros anos da Fórmula 3 que ainda atua na categoria. Estreante como piloto em 1989, Dárcio atualmente dirige a equipe Prop Car, campeã em 1997 com o mineiro Bruno Junqueira.
“Nos primeiros anos, havia uma indiscutÁvel vantagem das equipes argentinas, que vinham da extinta Fórmula 2 e por isso possuÁam um conhecimento técnico e experiência muito maioresâ€, conta Dárcio. “Assim, parte dos tÁtulos brasileiros foram conseguidos com carros preparados do outro lado da fronteira. E isso era fantástico, muito bom para o esporte. Hoje, as equipes brasileiras cresceram muito e dominam a F-3â€.
Grandes craques
A rivalidade perdurou por vários anos, assim como os duelos antológicos. Circuitos famosos como Interlagos e Buenos Aires tiveram arquibancadas lotadas muitas vezes para ver as novas gerações brasileiras encarar os craques argentinos. Os dois paÁses dividiram vitórias e tÁtulos, mas um nome merece destaque.
O argentino Nestor Furlán permaneceu na categoria por vários anos, tornando-se o maior piloto da história da F-3. Depois de tentar carreira na Europa e retornar por falta de patrocÁnio, Furlán estabeleceu-se na categoria continental, enquanto jovens pilotos chegavam e partiam para a Europa ou os Estados Unidos. Experiente, técnico e cheio de truques inteligentes, o argentino ditou o nÁvel da competição – altÁssimo – sendo um parâmetro, uma espécie de Schumacher, para quem chegava. Com quatro tÁtulos de campeão sul-americano de F-3, Furlán atualmente é destaque na TC2000, a Stock Car da Argentina.
Já na primeira temporada, a F-3 atraiu pilotos de dez paÁses diferentes, incluindo alguns não sul-americanos, casos de nomes conhecidos como o australiano David Brabham e o italiano Enrico Bertaggia. Era uma época na qual o Brasil contava, na F-3, com pilotos de talento já reconhecido por seu sucesso em outras categorias, casos de Marcos Troncon, Artur Bragantini, Egon Hertzfeld, entre outros vários outros.
Legado
Em 20 anos de história, a F-3 Sul-Americana ofereceu aos pilotos do continente a oportunidade de aprender a lidar com sofisticadas regulagens de chassi, freios de grande eficiência, pneus que exigem técnica de pilotagem acurada, motores potentes, rivais difÁceis de dominar e equipes que replicam o ambiente profissional e a estrutura de trabalho encontrados na Europa e Estados Unidos. Foi a escola perfeita para muitos que fizeram nome e fortuna no esporte – e o Brasil foi o grande beneficiado nesta que é a principal formadora de pilotos situada fora do automobilismo europeu.
Os nomes que disputaram tÁtulos ou que simplesmente competiram na categoria para aprimorar sua técnica formam na verdade uma lista quase completa dos melhores jovens pilotos que o Brasil produziu nas últimas décadas: Cristiano da Matta, Hélio Castroneves, Affonso Giaffone Neto, Christian Fittipaldi, Tarso Marques, Hoover Orsi, Bruno Junqueira, Jaime Melo Júnior, Rubens Barrichello, Nelsinho Piquet, Max Wilson, Vitor Meira, Ricardo Zonta, Osvaldo Negri Júnior e muitos outros. Juntos, eles conquistaram uma quantidade impressionante de tÁtulos internacionais, muitos deles de primeirÁssima linha, caso dos tÁtulos na F-3000, Fórmula Mundial, 500 Milhas de Indianápolis e FIA GT. Sua chegada ou não Á F-1 dependeu de diversos fatores e obstáculos de carreira que o automobilismo oferece. Mas, sem dúvida, boa parte do talento que mais tarde construiu o sucesso destes pilotos foi forjado ao volante dos F-3 sul-americanos.