Coluna: “Buscando ser grande”, por Rafael Ligeiro

Uma das caçulas dentre as equipes da Fórmula 1, a Toyota apresentou no último dia oito o modelo TF-105 que será utilizado na temporada 2005. Essa é a quarta temporada dos japoneses na categoria e há uma grande expectativa para que alcancem o objetivo lançado no ano de estréia: ser uma esquadra de ponta, em condições de lutar por pódios e vitórias.

Logicamente, atingir esse desafio da noite para o dia é algo difÁ­cil na Fórmula 1, especialmente para as equipes novatas. Isso até mesmo há 30 anos, quando o equilÁ­brio nas pistas era evidente e o orçamento anual de um time de primeira linha beirava 5% do usado pela Ferrari atualmente. Desde então, a Wolf nos anos 70 e a BAR, no ano passado, foram raros exemplos de equipes que saltaram de medianas para brigar com as grandes por resultados expressivos em um curto perÁ­odo. Sabendo dessa dificuldade, a cúpula da marca oriental, apenas sétima colocada no último mundial de Construtores, adotou um discurso mais cauteloso e aposta em um investimento em médio prazo, degrau a degrau.

De qualquer maneira, 2005 é um ano importante Á s pretensões da Toyota. As contratações de Jarno Trulli e Ralf Schumacher mostram que a escuderia está jogando suas fichas na busca por uma excelente estrutura. Além de serem ex-pilotos de equipes de forças como Renault e Williams, trata-se de boas apostas. Embora tenham passado por maus bocados no campeonato anterior, a dupla Á­talo-alemã é forte e quer mostrar serviço. Trulli saiu da Renault mordendo os cotovelos por falta de atenção, mas em 2004 obteve os melhores resultados da carreira, até uma convincente vitória no GP de MÁ´naco. Mostrou-se muito consistente e superior ao anteriormente sujeito de condução irregular. É mais completo que nos anos anteriores.

Já o alemão Ralf voltou em boa forma após o acidente no circuito de Indianápolis, em junho. E seu melhor resultado aconteceu justamente na penúltima etapa do campeonato, com o segundo lugar no Japão. Inegavelmente está longe do talento de alguns dos principais nomes do circo, como Raikkonen, Alonso, Barrichello e, especialmente, o irmão Michael. Porém, desde os tempos de Jordan, Schumaquinho mostra que quando inspirado é capaz de atuações irretocáveis.

Outro feito louvável na equipe japonesa foi a permanência de Olivier Panis e Ricardo Zonta. Ambos estão no time desde 2003, já conhecem os métodos de trabalho e serão figuras importantes no desenvolvimento do carro ao longo de uma temporada composta pela marca recorde de 19 corridas. E deverão ter muito trabalho. A Toyota é conhecida como uma equipe que testa muito. Mais que isso, se o retrospecto dos anos anteriores continuar presente, Panis e Zonta terão de auxiliar no desenvolvimento da aerodinâmica do veÁ­culo.

Apesar das versões do motor RVX desde 2002 terem mostrado confiabilidade e potência – obtendo as maiores velocidades em diversos circuitos, o problema sempre foi a aerodinâmica. Nas transmissões em 2004 era evidente o falta de equilÁ­brio no chassi. Ora a aderência na parte dianteira era pÁ­fia. Outrora o carro saÁ­a de traseira, algo que até comprometia melhores performances do propulsor. Agora resta acompanhar durante a pré-temporada o rendimento do TF-105, carro que já contêm todas as especificações impostas pelo mexe-mexe da FIA.

Atualmente, a Toyota está longe de deixar a categoria. O próprio time que construiu sua estrutura, possui uma das melhores fábricas do automobilismo mundial – que chega a funcionar continuamente durante 24 horas em algumas ocasiões, capaz de criar e emitir componentes a qualquer momento para qualquer canto do mundo. Além disso, o certame da FIA sempre foi o grande sonho da montadora, especialmente por servir como uma vitrine para o mercado automobilÁ­stico. Mas quando o assunto é Fórmula 1, onde centenas de milhões de dólares estão envolvidos anualmente, é bom que surjam também resultados convincentes. A Jaguar já deixou seu exemplo de insucesso e adeus no ano passado.