Hoje, 28/09/2020 faz 18 anos que o Brasil perdia 4 pessoas, nelas 1 mecânico e 3 grandes e talentosos pilotos…o automobilismo perdia o Pedrão, destemido, mas temido e respeitado por seus adversários, já eu perdia o Pedim, um parceiro, um amigo, meu irmão. Tudo começou em 1983, em seu nascimento, mas eu ainda um bebê, não sabia o que significaria em nossas vidas. Em 1989 ganhamos um kart de presente de aniversário, mal sabÁ­amos nós que seria um amor Á  primeira vista, muito mais para ele do que pra mim.

Em 1990 começamos a correr, de cadetinho, em Porto Velho – RO, o Campeonato Rondoniense, eu com o número 27 e ele com o 26, não precisou mais do que 2 corridas para ele mostrar que, apesar da pouca idade e tamanho, já fazia frente a muitos meninos e meninas bem maiores que ele, alguns com muito mais tempo de corridas que nós. E nisso foi Campeão Rondoniense de kart 2 anos seguidos, 1990 e 1991. Alguns poucos sabem o porque ele sempre usou o número 26…é o seu dia de nascimento, 26/10/1983.

Em 1992 mudamos para BrasÁ­lia, e uma das primeiras coisas que ele queria era acelerar no seu Kart e nessa brincadeira toda, foi Campeão Brasiliense em 1992 e 1993. A cada corrida era nÁ­tida a sua aptidão e jeito pra coisa, curvas onde precisava aliviar…ele fechava os olhos e fazia, mas as pessoas não entendiam como, mas fazia.

Então veio 1994 e com isso os desafios começaram a ficar maiores, mas para ele parecia que era simples. Em uma dessas tantas corridas nesse ano, uma foi especial…a inauguração do Kartódromo Schincariol em Itu – SP. Chegamos lá, um piloto conhecido no Centro Oeste, mas ainda desconhecido no Sudeste, e sem muita cerimÁ´nia fez a primeira pole-position da pista e de quebra ganhou a corrida, sendo o primeiro vencedor da pista paulista. No pódio dessa corrida além dele tinha o Nelsinho Piquet, Renato Jader Davi e Bia Figueiredo, ambos com passagem pela Stock Car Brasil. Nisso já marcou seu nome e mostrou seu cartão de visitas aos Paulistas. Foi um ano bem proveitoso, onde por onde passou ganhou corridas e sempre andou muito rápido.

Já em 1995, voltamos a morar em Porto Velho – RO, mas ele não poderia ficar parado…ele já promovido Á  categoria Júnior Menor, fomos correr o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro de Kart. Pensa que ele afinou para os caras?? Que nada subiu ao pódio em todas as corridas que disputou no Paulista. Já o Brasileiro em Florianópolis, um frio congelante, mas para ele parecia estar pegando fogo, ou melhor colocando fogo em seus adversário…como um garoto de RondÁ´nia esta conseguindo andar na frente de todos vocês? Equipe simples, com uma estrutura bem mais simples que todos, mas sempre no topo da tabela de tempo…ai ai, só quem esteve lá sabe realmente o que aconteceu para tirarem dele aquele que seria seu primeiro titulo de Campeão Brasileiro de Kart, ele havia ganho as 2 corridas do sábado…mas o destino ou a ganancia de alguns, acharam que não era a hora dele. Mas pensa que ele desistiu?? Nada disso…já eu, pulei fora!!

Em 1996, promovido Á  categoria Júnior e de volta a BrasÁ­lia, correu o Campeonato Brasiliense de Kart, sendo destaque em todas as provas. E mais uma vez, fomos para o Campeonato Brasileiro de Kart, desta vez em Salvador – BA, e não precisa nem falar o que aconteceu né? Mais uma vez destacou-se e foi Vice-Campeão Brasileiro de Kart – Categoria Júnior, ficando atrás apenas do Tuka Rocha (Tukinha), mas superando nomes como Danilo Dirani e Augusto Farfus, e começando uma parceria com o Rafa (Rafael Botelho Cansado – RBC Preparações) …que competição, foram dias de muita luta, pouco sono e muita dedicação para alcançar o resultado esperado. No final do ano surgiu a oportunidade de mudarmos para São Paulo, onde estavam os melhores pilotos do automobilismo no Brasil.

Bom, começamos 1997 na categoria Júnior e logo em sua primeira corrida deu um passão em 2 pilotos na curva da balança, que os “caras” estão o procurando até hoje, ahhh muleke…essa curva da balança já fez muito piloto perder a cabeça, como ele conseguiu algumas ultrapassagens só ele sabe, mas elas aconteceram!! Foi um ano de muito aprendizado, muita luta e mais uma vez de excelentes resultados, finalizando o seu primeiro Campeonato Paulista completo em terceiro lugar, ganhando 2 das 11 corridas disputadas e subindo ao pódio em 9 provas. Já no Brasileiro, em Betim – MG, faltou sorte, porque ele era muito rápido, mas Deus estava reservando algo muito maior e melhor pra ele.

Começamos 1998 em uma nova equipe e categoria, dessa vez já na Graduados “B”, esperança renovada e muita água correu por baixo da ponte entre 1997 e 1998…mas lá estávamos nós para mais um ano, e que solidificou seu nome entre os melhores pilotos em atividade da época. Foi Campeão Paulista de Fórmula PARILLA, Campeão Bandeirante, terceiro colocado no Campeonato Paulista de Kart, ganhando 5 das 11 corridas disputadas (esse Campeonato Paulista merecia um capitulo a parte, porque só quem esteve envolvido sabe como foi perdido e porque foi perdido, mas tudo que envolve seres humanos e dinheiro vai dar merda, e deu!!!). O Campeonato Brasileiro desse ano, Fortaleza – CE, foi do jeito que os Deuses quiseram mesmo…na classificação ele marcou o 3º tempo. Na primeira bateria, quando estava liderando, a 12 voltas do fim seu motor quebrou…ahhh como ele conseguia fazer o impossÁ­vel virar possÁ­vel. Largando 21º na segunda bateria ele chegou em 7º a menos de 1 segundo do 6º colocado. Na terceira bateria, mais uma vez fez chover e chegou na 3ª posição. Na quarta e última bateria, já podem até imaginar a posição de chegada né? Primeiro lugar, com mais de 1 reta de vantagem para o segundo colocado, quem nem saiu na foto. Isso eram os Deuses preparando-o, porque iria precisar de toda essa força de superação lá na frente! E assim terminou o brasileiro, terceiro colocado, a apenas 5 pontos do primeiro…mas superando pilotos como Allan Khodair, Nelson Merlo, Roberto Streit e Augusto Farfus.

Depois de todos esses anos de preparação, aprendizado e muito esforço e determinação, Deus mandou o ano de 1999…foi o ano dele!! Ele simplesmente amassou os seus adversários, não tiveram espaço nem para respirar. Simplesmente ganhou quase tudo que foi possÁ­vel e disputado naquele ano. Vamos começar pelo Campeonato Norte-Americano de Kart, disputado em Montreal (Canadá), correndo contra Bruno Spengler (Campeão da DTM em 2012), Sergio Jimenez, José Maria Lopez, Augusto Farfus, dentre tantos outros, ele foi lá, em pistas desconhecidas, e cravou todos. Pra começar os Deuses mandaram uma chuva e ele foi quase 1 SEGUNDO mais rápido que os adversários, marcando a pole. Na primeira eliminatória, venceu de ponta a ponta, com mais de 3 segundos de vantagem para o segundo. Na segunda eliminatória, administrou seu equipamento e chegou na segunda colocação. Na primeira bateria da final, simplesmente destruiu seus adversários, chegando com mais de 5 segundos de vantagem na frente de Sergio Jimenez. Na segunda bateria da final, administrou muito bem a corrida e chegou colado no primeiro colocado, e com isso sagrou-se Campeão Norte-Americano com 7 pontos de vantagem ao vice-campeão (Bruno Spengler), na categoria Fórmula A.

 

Ainda em 1999 o destino havia lhe reservado uma conquista muito especial, o Campeonato Brasileiro de Kart diante de sua torcida em Anápolis – GO…que semana!!!! Foi uma semana muito especial, onde ele pode contar com a energia e apoio de toda a famÁ­lia e amigos. Mas vamos lá aos dias de ação…nos treinos ele sempre estava entre os mais rápidos, mas na quarta ou quinta-feira ao voltarmos do almoço, em uma das escadas que ligava o estacionamento aos boxes, ele torceu o pé…e nisso o Mister Dan (Dr. Daniel de Moraes) estava lá para dar o suporte médico e com a quiropraxia aliviou um pouco as dores, dando a ele condições de correr. Na tomada de tempos, realizada no final da sexta-feira, por muito pouco (0.022s) ele perdeu a pole para o Tuka Rocha, mas os Deuses sempre escolhem o melhor caminho. Então fomos para o sábado e na primeira bateria, e já na largada, de frente a sua torcida assumiu a liderança até a volta final, chegando com pouco mais de 2 segundos de vantagem do segundo colocado. Na segunda bateria, uma boa disputa com o Allan Khodair, o Japonês Voador da Stock Car, e o Pedrão acabou em segundo a 0.370s do primeiro. Terminamos o sábado muito animados e na liderança da classificação do Campeonato. Mas os Deuses sempre reservam surpresas especiais para os especiais. No domingo, durante a terceira bateria, tudo tranquilo e normal, até que em uma disputa posição, um concorrente, desses que sempre aparecem de bom moço na internet, desesperado por não conseguir acompanhar o ritmo, deslealmente, desonestamente, anti desportivamente (adicione esses adjetivos por ai), jogou seu kart em cima do dele, fazendo com que ele caÁ­sse para as últimas posições. Nisso ele precisou recuperar-se até chegar em 13º (se 13 é um numero da sorte, e imagina 26), não esqueço até hoje quando isso aconteceu TODOS os boxes concorrentes vibraram em uma das cenas mais grotescas vividas, comemoraram como se tivessem derrotado seu maior concorrente. Aquela apreensão tomou conta de todos nós que estávamos acompanhando o campeonato, menos ele, que parecia já ter os planos em suas mãos. Em um dos intervalos entre as corridas, Saulo e Eu chegamos nos boxes…meio apreensivos, preocupados vamos assim dizer…e ele? Tirando uma soneca, PQP só ele mesmo!!! E vamos nós para a bateria final, para o tudo ou nada…e logo na largada o motor começou a falhar, como se tivesse algo de errado, e com isso ao invés de largar da 13ª posição, ele passou lá pelo 20º na primeira volta…mas foi uma das corridas mais incrÁ­veis que TODOS que estavam ali assistiram, onde ele tinha pouco mais de 20 voltas para fazer o impossÁ­vel e ganhar aquele campeonato, mas ele fez!!!! Volta a volta ele ia passando seus adversários, ganhando posições e inflamando a sua torcida e murchando as muretas dos boxes da pista, e a cada volta ele fazia voltas mais rápidas da corrida, chegando ao final da corrida em 1º Lugar e sagrando-se Campeão Brasileiro de Kart – Graduados “A”, e fazendo TODOS os boxes pararem para o aplaudir de pé, redimindo-se do que haviam feito no dia anterior. Nesse evento estavam correndo Júlio Campos (Stock Car), Tuka Rocha (Stock Car), Danilo Dirani (Copa Truck), entre outros.

Uma rápida passagem pela Bélgica, onde ele disputou o Campeonato Mundial de Kart na Categoria Fórmula A. Começou na tenda ao lado da barraca oficial da equipe, mas logo após o primeiro treino a equipe o convocou para fazer parte da equipe oficial, e tinha como companheiro de equipe um cara chamado Fernando Alonso, kkkkk já ouviram falar dele??? Alonso corria na Super A. Como de costume, ele era muito, muito rápido…mas ali faltou um pouco de sorte, ele se envolveu em alguns incidentes que o fizeram largar muito atrás nas corridas.

Tudo isso que aconteceu em 1999 o consagrou como o MELHOR PILOTO DE KART do paÁ­s, ganhando o Capacete de Ouro, prêmio dado pela revista Racing aos melhores piloto do paÁ­s. Sem contar suas presenças constantes e marcantes nas 500 Milhas de Kart, onde disputava em pé de igualdade com Rubinho, Massa, Giaffone e toda turma grande do automobilismo nacional e internacional. Que emoção e felicidade daquele dia!!! Deus reservou esse ano para ele, só ele!

Já para o ano 2000 uma transição mais pesada, sair do Kart e dar o passo para os Fórmulas, mas o menino era danado e chegou na Fórmula Rio como se já conhecesse, carro, pista e tudo mais, fazendo pole, melhor volta e ganhando corridas…que inicio de ano em??? E isso lhe rendeu o convite para correr na equipe Full Time Sports (Mau Mau), na extinta Fórmula Chevrolet. Correndo contra pilotos com 3 anos de experiência, sabe no que deu??? Vitória já na 3ª Etapa, Guaporé – RS. Pole position em Goiânia – GO e sempre andando na frente. Enquanto pilotos precisam de 5 anos para adaptação ao carro, ele precisava de 5 voltas. Era incrÁ­vel o que acontecia quando ele entrava no carro!!!

Ainda no ano 2000, uma passagem inesquecÁ­vel foi em Interlagos, a 7ª Etapa do Campeonato, ele havia feito o quinto melhor tempo da Classificação, mas tinha faltado coisa de 300 ml de gasolina para analise pós treino…com isso ele foi desclassificado e acabou largando da 25ª e última posição, mas mais uma vez os Deuses do automobilismo disseram a ele: é a sua hora de brilhar, é com você! Nessa corrida, coisa de 20 voltas, ele fez nada menos que 17 voltas mais rápidas da corrida!!! A cada volta ele abaixava o tempo e passava seus concorrentes, o narrador do SporTV não sabia o que estava acontecendo, nem ninguém na verdade, ele passava os adversários onde era impossÁ­vel, chegou a ultrapassar 2…isso mesmo DOIS concorrentes por FORA no S do Senna, sem DRS, ERS, Kers e essas coisas da geração Nutella. Finalizou a corrida na terceira posição, com mais meia volta terminaria em 2º. Isso rendeu uma inspeção pouco vista em seu carro, desmontaram parafuso por parafuso, querendo achar onde estava a mágica!!! Ohhh povo burro viu, era só ter olhado para a peça que fica entre o volante e o banco!

 

Mesmo não tendo participado de todas as corridas do campeonato, mas com essas atuações foi eleito o SEGUNDO melhor piloto de Fórmula do paÁ­s, perdendo apenas para Vitor Meira, que a época corria na Fórmula 3 Sulamericana. Ficando a frente de pilotos como João Paulo Oliveira (Japão), Popó Bueno (Stock Car), Juliano Moro (Stock Car), Duda Pamplona (Stock Car) e até do campeão mundial de kart em 1995, Gastão Fráguas. E com isso o ano 2000 não foi o que querÁ­amos, mas ele pode mostrar como se adaptava muito rápido e fácil aos novos desafios.

AÁ­ vem o ano 2001, foi um ano sem muita ação nas Fórmulas, mas de muita ação no Kart em Interlagos, ali era sua verdadeira casa…junto com o pessoal da RBC Preparações, Botto Autogear eles desenvolveram o Chassis Birel e voltaram a ganhar corridas, e sempre as boas historias após os treinos, com um churrasquinho ali mesmo, a pouco metros do kartódromo.

Alguns convites de treinos na Fórmula 3 Sulamericana, e mais uma vez o degrau que para muitos era gigante, para ele era como andar, simplesmente em pouco mais de 5 voltas já virava no tempo da pista, enquanto alguns estreantes não conseguiam parar o carro na pista, só quem estava lá via as presepadas sendo feitas…mas com ele não, era volta atrás de volta rápida…em poucas voltas já tinha superado o piloto oficial da equipe…ahhh muleke, precisava ver a cara do pessoal da equipe. Mas ele não quis, o cara quando é bom, é bom e ponto final. Ele não quis o projeto, não achou bacana e decidiu ir por outro caminho.

Ainda em 2001, um teste na Fórmula Renault Europeia e mais uma vez o cara chegou lá e simplesmente triturou os adversários, com direito a quebra de recorde da pista. A cada entrada e saÁ­da dos boxes com informações precisas os engenheiros não acreditavam no que viam, mas viam. Esse teste renderia boas histórias, mas os mesmos Deuses que sempre estiveram com ele, não quiseram que ele chegasse mais longe…pois o contrato para chegar Á  Fórmula 1 estava feito, mas jamais deve-se passar por cima dos seus princÁ­pios, e isso nós não aceitamos e deixamos rolar.

Então chegamos em 2002, um ano que marcou a chegada da Fórmula Renault no Brasil e começou com diversas opções para ele correr, mas também com muitas dúvidas…sendo até vetado por um concorrente (hoje em dia defende tantas coisas que vetou no passado, quanta hipocrisia meu povo) para ser companheiro de equipe, hummmm na TV eles acham isso absurdo, mas no mundo real isso existe desde categorias de base. Mas uma equipe lhe ofereceu um contrato, e ele fez a escolha por correr na Fórmula Renault Brasil. Tanta coisa aconteceu nesse ano, que precisaria de um filme com umas 5 horas para contar em detalhes, mas quem estava lá viu o que aconteceu e o que foi feito com ele, mas como sempre ele era competitivo, mesmo nessas condições. Mas nem por isso ele abaixou a cabeça, sempre nas condições adversas ele mostrava sua força, e mais uma vez fez corridas memoráveis.

Nesse mesmo ano, estava desenvolvendo o chassis de kart da Birel…até que os Deuses do automobilismo estavam precisando de pilotos em outros campeonatos, e com isso lhe convocaram para essa nova missão. Ele como gostava de desafios, não recusou e foi abrilhantar e ganhar novas corridas em novas pistas.

Foram anos de luta, sacrifÁ­cios, dificuldade, mas muita amizade e companheirismo. Quando pais falam que fazem tudo pelos filhos, muitas vezes não é possÁ­vel acreditar…mas por ele foi feito TUDO que foi possÁ­vel, e ele retribuiu com amizade, felicidade, companheirismo e acima de tudo com vitórias, e que vitórias, aliás COMO É BOM GANHAR!!

Ao longo desses 18 anos muita coisa mudou, não preciso te contar muito, você acompanha a grande maioria delas, sempre de perto.

Fica aqui uma lembrança, para a grande maioria, de um piloto que a 18 anos nos deixava, mas para a famÁ­lia uma pessoa alegre, feliz, com vontade de viver e que nos deixa saudades até hoje. Mas nem por isso a sua estrela deixou de brilhar…

Grande Abraço, Duron!